Cartas Ausentes

Postado por Fernanda Huppert
Despertou a primavera, mas eis que meu coração é eterno Outono. Outono porque resisti ao frio do Inverno, mas deixei cair as flores entre mim e o sonho.
E nem as flores que ponho no cabelo poderão apagar o Outono de Março. Mas hoje, só hoje, eu quis que a rua fosse Outono de amor e que as folhas desse Outono se transformassem em folhas soltas de amor.
E a cidade cobrir-se-ia de cartas amadas e amantes, guardadas em livros antigos, abandonadas nas ruas, pisadas como folhas velhas de um Verão que passou. Das árvores cairiam cartas de amor ao mundo - a mim, a ti, ao outro, ao alheio, aquele, aquela.
E todo o coração escreveria uma carta de amor, que deixaria sobre um banco de jardim, sobre uma esquina da rua, sobre a mesa do café, sobre o bancos, ruas, avenidas.

E a cidade seria feita de ruas enamoradas, de cartas abandonadas, recolhidas por mãos alheias, suspeitas, distantes, amadas, sentidas, carentes, amantes.
Mas esse é apenas um Outono do meu coração.
Talvez eu escreva, um dia, uma carta de amor sobre o teu nome e a abandone na tua rua, largada ao vento, ao sol, ao mundo.
E talvez eu deposite sobre o meu nome a flor que trarei no cabelo quando a primavera despertar em mim, em sua proxima estação...

Fernanda Huppert

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